Artigo

Praia da Vida

Hoje foi uma tarde complicada, a tempestade apoderou-se de mim, mas não quero falar sobre isso. Nestes momentos abstraí-me da tempestade que se fez sentir hoje lá fora e em mim. É Sábado à noite, e é difícil imaginar a suposta verdade em que estarás nos braços de alguém que te ama sem ser junto dos meus. Não quero falar nisso senão doi-me ainda mais o coração. Por isso pensei no que está para além dessa tempestade, nas coisas boas que existem se não fossem a chuva, o vento insuportável, o frio.

A praia será sempre um sítio especial, diferente de todos os outros. A maré reproduz o som mais calmo que os ouvidos podem escutar, o cheiro a iodo preenche os pulmões de vida, e os olhos ficam a conhecer a combinação entre o amarelo sólido e o azul líquido e invisível.

A cada onda que chega à praia milhares de grãos de areia são repuxados para o mar, e continuarão o seu rumo. Vieram de sítios longínquos, do alto das montanhas e por sedimentação depositaram-se nas bacias amarelas que pisamos e onde podemos fazer desenhos e castelos.

Poderíamos brincar aos príncipes e princesas e desenhar um castelo grande, onde dois apaixonados poderiam morar um dia. Poderíamos desenhar apenas um coração grande, e no meio dele sentarmo-nos durante horas, a contemplar o mar.

No entanto poder-nos-íamos abraçar para não ter frio, e então ficar por ali, quietos, imóveis, a ouvir apenas o que o mar tinha para nos dizer.

Ou então poderia levar-te ao colo durante metros sem fim ao longo da costa para que os teus pés não se molhassem, para apenas sentir o ar puro que o mar e os meus olhos te transmitiam.

No fim poderíamos buscar aquelas pétalas de rosas que coloquei na mala do carro e fazermos uma promessa ali mesmo, enquanto largávamos as pétalas no mar. Prometia-te que todos os dias iram ser o início, para que o amor nunca tivesse fim nos nossos corações.

O mar ficaria mais salgado de certeza com o selo das nossas lágrimas, que se depositariam ali para sempre, naquela praia.

4 FEV, 2017 0

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